domingo, 18 de dezembro de 2016

IMAGEM DA CULTURA

"Fazem-nos acreditar, ao mesmo tempo, que os problemas são dados já feitos e que eles desapareceriam nas respostas ou na solução; sob este duplo aspecto, eles seriam apenas quimeras. Fazem-nos acreditar que a atividade de pensar, assim como o verdadeiro e o falso em relação a esta atividade, só começa com a procura de soluções, só concerne às soluções. (...) É um preconceito infantil, segundo o qual o mestre apresenta um problema, sendo nossa a tarefa de resolve-lo e sendo o resultado desta tarefa qualificado de verdadeiro ou falso por uma autoridade poderosa. E é um preconceito social, no visível interesse de nos manter crianças, que sempre nos convida a resolver problemas vindos de outro lugar e que nos consola, ou nos distrai, dizendo-nos que venceremos se soubermos responder: o problema como obstáculo e o correspondente como Hércules. É esta a origem de uma grotesca imagem da cultura, que se reencontra igualmente nos testes, nas instruções governamentais, nos concursos de jornais (em que se convida cada um a escolher segundo seu gosto, com a condição de que esse gosto coincida com o de todos). Como se não continuássemos escravos enquanto não dispusermos dos próprios problemas, de uma participação nos problemas, de um direito aos problemas, de uma gestão dos problemas. É o destino da imagem dogmática do pensamento apoiar-se em exemplos psicologicamente pueris, socialmente reacionários, para prejulgar o que seria o mais elevado no pensamento, isto é, a gênese no ato de pensar e o sentido do verdadeiro e do falso."
Gilles Deleuze - Diferença e Repetição

domingo, 23 de outubro de 2016

Guattari e Rolnik prevendo o futuro


Na obra "Micropolítica: cartografias do desejo" a narra a passagem de Guattari pelo Brasil no ano de 1982 acompanhado por Rolnik, há uma passagem muito  interessante sobre Estado e Autonomia na qual a dupla faz uma explanação sobre um hipotético futuro para o Brasil que se assemelha bastante a situação pela qual o país passa nos dias atuais.  

"Imaginemos um roteiro de ficção científica em que as formações de esquerda conseguissem tomar o poder no Brasil. Nesse caso, seria preciso colocar-lhes desde já a questão: "a intenção de vocês é de assumir um caminho modernista a la europeia?" Isso significaria que todos aqui teriam excelentes salários, status e equipamentos muito bem feitos. Mas significaria também que todos se tornariam operários de uma máquina para produzir modos de subjetivação absolutamente esmagadores.
Se a coexistência desse dois tipos de objetivo - a afirmação de processos de autonomia e a existência de grandes máquinas de luta - continuar impedida, tenho a impressão de que infelizmente vão ser sempre os mesmos tipos de formação política - sejam elas de direita ou de esquerda - que estarão na gestão dos grandes problemas e que se ocuparão de todas as minorias. Conforme for, essas formações poderão até dizer: "fiquem tranquilos, a gente dá um jeito nessa questão das minorias"; e vários ministérios surgirão da noite para o dia: ministério dos negros, das mulheres, dos loucos e por aí vai. Digo isso porque é um pouco assim que as coisas estão acontecendo na Europa neste momento. Temos personagens de ministérios que poderíamos chamar de "Senhor Droga", "Senhora Condição Feminina", "Senhor Ecologia" etc. As marginalidades tem até um estatuto. Mas é exatamente esse reconhecimento que as faz entrar em equipamentos coletivos e seus equivalentes, e as torna em certo contextos, agentes da produção de subjetividade capitalística. E isso frequentemente em condições de uma surpreendente ambiguidade. É verdade que a gente não conseguiu inventar uma estrutura política que seja capaz de desenvolver esses dois tipos de luta ao mesmo tempo; e é por isso, a meu ver, que os movimentos, no essencial, se esvaziaram.
 É por essa razão que insisto em que se as minorias de toda natureza, os marginais, os trabalhadores precários - todas as pessoas que recusam os modos de vida, os modos de disciplina vigentes - ficarem esperando gentilmente que o poder de Estado (seja ele capitalista ou socialista) venha trazer-lhes soluções, estaremos correndo o risco de esperar por muito tempo; estaremos correndo talvez um risco pior ainda: ver a situação dar uma virada tal que uma direita, mais extrema do que a que conhecemos, tome o poder. E ela saberá muito bem como mantê-lo" (GUATTARI & ROLNIK, p. 174, 2005).

domingo, 21 de agosto de 2016

UM POUCO SOBRE O TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO


Autismo hoje chamado de Transtorno do Espectro do Autismo – TEA se caracteriza por ser um transtorno do desenvolvimento no qual ocorre marcante prejuízo na socialização, aprendizado e comunicação. O autismo se enquadra nos transtornos invasivos do desenvolvimento (TID), condições caracterizadas por desvios ou atrasos no desenvolvimento de habilidades sociais e comunicativas.
Há um característico e constante prejuízo na interação social de indivíduos acometidos por este transtorno, aliado a alterações na comunicação, comportamentos estereotipados e limitação de interesses. Durante meados do séc. XX devido à incerteza a respeito da origem e natureza do autismo, este poderia ser causado por pais não muito próximos emocionalmente, surgiu a hipótese das “mães geladeira”, porém este termo foi quase totalmente abandonado. Uma referência na classificação ocorreu em 1978, quando Rutter elaborou uma definição baseada em quatro itens: 1) atraso e desvio sociais, 2) problemas de comunicação, 3) maneirismos e comportamentos estereotipados e 4) início antes dos dois anos e seis meses de idade.

As alterações sensoriais também são muito relevantes para a identificação do TEA, como o próprio nome menciona, há um espectro, há uma variedade de características associadas que afetam a pessoa como um todo.
Para se aprofundar mais no tema há diversos artigos acadêmicos que o abordam, como também outros meios com linguagem mais acessível, entre os quais destaco o canal Diálogos sobre TEA que traz informações importantes e, assim como este blog, está aberto ao diálogo para duvidas a serem tratadas.


Texto também disponível em https://medium.com/@joaomarcelferreiralpes/um-pouco-sobre-o-transtorno-do-espectro-do-autismo-36ca14f8f809#.dudhzr8pd

terça-feira, 19 de julho de 2016

RIZOMA

Os pensadores Gilles Deleuze e Felix Guattari em sua obra Mill Platôs: capitalismo e esquizofrenia, que sucede a obra de mesmo subtítulo O Anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia, esmiúçam a proposta da desta, para tanto relembramos três princípios:
- o conceito de inconsciente como usina, como uma fábrica ao invés de um teatro, o inconsciente como produção e não como representação;
- o delírio como construção histórico-mundial, o que se deliram são organizações, raças, tribos, culturas e não algo restrito ao círculo familiar;
- há uma história de contingencia e não de necessidade.
Nesta proposta trazida pelos pensadores o que se propõe é a construção de pensamento que opera por meio do múltiplo, assim o que se busca é uma outra lógica que não a binária que se dá por dicotomia, pelos dualismos, sujeito-objeto, isto ou aquilo, o que se busca é a lógica do “e”, isso e aquilo e aquilo outro e outros “e”.
O conceito de rizoma vem para a compreensão da teoria das multiplicidades, pois tem como base a própria multiplicidade. Para os pensadores franceses Deleuze e Guattari rizoma não se limita às materialidades, pois traz consigo a imaterialidade. Apresenta-se um conceito que está no meio composto pelas mais variadas formações, o qual não possui começo nem fim, sendo composto por platôs. “Um platô está sempre no meio, não possui início nem fim. Um rizoma é feito de platôs (DELEUZE & GUATTARI, 2004, p.33)”.
Rizoma se apresenta como um conjunto de linhas de elementos nômades, não restrito a classes, ao invés de linhas subordinadas a estruturas hierárquicas, que submetem a multiplicidade a um Uno, a um universal. Vem como a expressão das multiplicidades.
Alguns princípios caracterizam o rizoma:
- conexão e heterogeneidade: rizoma não é fixo em pontos em ordens, qualquer ponto pode ser conectado a outro ponto e deve sê-lo. Uma analítica rizomática busca afirmar conexões entre diversos estratos, entre diversos níveis;
- princípio de multiplicidade: a multiplicidade compõe grandezas, dimensões, determinações, ao invés de constituir sujeitos e objetos, crescem por meio da mudança de natureza. A multiplicidade se compõe fora da lógica binária
;
- princípio de ruptura a-significante: rizoma pode ser rompido em qualquer lugar, onde há ruptura eclodem linhas de fuga que remetem umas às outras e que fazem parte do próprio rizoma;
- princípio de cartografia e decalcomania: um rizoma não se fundamenta em nenhum modelo estrutural, não se faz um decalque de uma estrutura sobrecodificada. Rizoma vem como um mapa que se abre a novas conexões, pode ser reconstruído, aberto a novas entradas ao invés de se sempre referir-se ao mesmo.
Importante é não opor a lógica rizomática à lógica binária, criando assim um outro dualismo. Um eixo de rizoma pode gerar uma estrutura hierárquica, como também um decalque pode ser gerador de rizoma.
No vídeo “O que é rizoma?” temos uma ótima explicação sobre este conceito tão importante na atualidade e como se pode reverbera-lo.
Referências:
DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol. I. São Paulo, Ed. 34. 2004.



domingo, 17 de julho de 2016

Os smartphones em nossas vidas: a necessidade de registrar na frente da vivência dos momentos.

https://www.youtube.com/watch?v=OINa46HeWg8

A cada dia estamos mais conectados, as redes sociais cada vez mais ocupam nosso tempo. Facebook, Twiter, Instagram, Snapchat, Whatsapp, Linked In e outras menores por ai, conseguem fazer com que apareça a necessidade de estarmos sempre conectados e postarmos aquilo que estamos fazendo em tempo real, para alguns esta necessidade de postar é muito forte.
Em muitos casos deixa-se de viver o momento para buscar o melhor ângulo, a melhor filmagem deste momento. Aquele momento em que uma reunião de amigos seja numa mesa de bar, numa festa ou outro momento perde importância, pois as pessoas estou verificando suas notificações ou postando o momento que vivem parcialmente.
Mostrando esta realidade cada vez mais presente nossos dias, o excelente vídeo “I forgot my phone” explana situações rotineiras que vem se tornando incomodadas devido a necessidade de não nos desgrudarmos de nossos smartphones.

Moderação é a palavra, registre os momentos mas não deixe de vive-los pela busca do melhor ângulo ou pela necessidade mostrar aquilo que faz. Viva os momentos!  

*Texto também disponível em https://medium.com/@joaomarcelferreiralpes/os-smartphones-em-nossas-vidas-a-necessidade-de-registrar-na-frente-da-viv%C3%AAncia-dos-momentos-5f008fe1b62f#.fvxbh8wte

domingo, 10 de julho de 2016

ANSIEDADE E STRESS


No nosso cotidiano uma palavra que aparece constantemente a palavra stress. A correria pela qual um número cada vez maior de pessoas tem passado no decorrer dos dias, estejam elas em grandes, médias e até pequenas cidades, traz consigo as falas: “estou estressado”, “fulano está muito estressado”, “você está estressado”.
O stress surge como resultado da interação entre as pessoas e o meio onde vivem. O termo stress serve para designar o estado produzido a partir de estímulos propiciadores de excitação emocional, estes estímulos, alteram o estado de equilíbrio e impulsionam um processo de adaptação caracterizado por diversas alterações sistêmicas, tanto de ordem psicológica como fisiológica. O estímulo ou evento causador de stress é denominado estressor. A resposta ao meio estressor envolve aspectos cognitivos, fisiológicos e comportamentais.
Várias situações estressoras ocorrem durante a vida de uma pessoa, e as respostas as essas situações variam de pessoa para pessoa, de maneira que, para alguns pode ocorrer uma plena adaptação como para outros podem ocorrer manifestações psicopatológicas como ansiedade e depressão. A resposta ao stress depene da forma como a pessoa processa os estímulos que vem do meio ambiente.
Evolutivamente a ansiedade e a stress tem como base as reações de defesa dos animais ao encontrarem perigos no meio ambiente. As respostas aos estímulos estressores incidem tanto no nível cognitivo, como nos níveis comportamental e fisiológico. A intervenção de fatores genéticos e ambientais é pressuposto pelo modelo multicausal de transtornos mentais.

Diante das situações estressoras do dia-a-dia a resposta dadas por cada pessoa depende de uma somatória de fatores genéticos e ambientais, e não apenas da intensidade dos estímulos estressores. Como resultado desta combinação pode ocorrer o esgotamento dos recursos do sujeito para lidar com essas situações, acarretando no surgimento de transtornos como os de ansiedade ou outros transtornos mentais.

***Texto também disponível em https://medium.com/@joaomarcelferreiralpes/ansiedade-e-stress-8e2faec44de7#.j9001ktud